Na verdade não aprecio nada a passagem de Ano mas como 2022 não deixa muitas saudades, vamos lá preparar uma mesa para a ocasião. Numa altura em que muita gente não acabou de digerir os milhentos fritos natalícios e outros investimentos calóricas feitos nos convívios à mesa que se multiplicam nesta quadra, a única coisa que seria sensato oferecer na passagem de ano era uma água das pedras.
Mas quem é sensato nestes tempos? Já sabemos que será outro dia escandaloso, uma mesa farta para alguns e apenas porque um ano novo se avizinha e no fundo, no fundo, porque não precisamos de razões muito fortes para fazer a festa. E festa sem comida é o quê? Nem é festa, ora essa!
Na passagem de ano há algumas tradições e até superstições à volta dos alimentos. O que se deve e não deve comer para que o ano novo seja um ano bom e próspero é tema que merecerá um minuto de reflexão? Talvez, os alimentos valem também pelo que representam simbolicamente. Na hora da verdade, quando a contagem decrescente começa, a ver se não corro a comer as passas. Sim, acreditar não acredito mas não vou estragar um ano novinho em folha só por detestar uvas passas. Como as passas, salto da cadeira e o que mais for preciso não vá o diabo aproveitar-se da minha desatenção. Fica aqui o alerta, não neguem à partida uma ciência que desconhecem. Comam as passas e peçam muita sorte e saúde pois cautela e caldos de galinha…
Como já não me apetece cozinhar mais nada fui banquetear-me com pintura gourmet. Procurei algumas propostas frequentes na mesa de Passagem de Ano, todas carregadas de simbolismo e absolutamente inofensivas para a nossa elegância desde que degustadas como passo a sugerir: com os olhos. Deleitem-se por agora e que nunca deixemos de poder usufruir deste privilégio que é reunir bons amigos à volta da mesa. Feliz Ano Novo!
O Marisco e o peixe são escolhas frequentes pois o que vem da água, que é fonte de vida, promete bons começos. Os mais supersticiosos preferem os mariscos que caminham em frente e que não olham para trás (acrescento eu). Só assim 2023 será feito de avanços.
O melhor mesmo é optar aquele marisco que muito oportunamente nos surpreende e aparece em casa para o jantar. Esta lagosta, por exemplo, chegou já muito bem composta e deixou Sua Eminência radiante. Pendant perfeito na entrada de 2023, o vermelho fica-lhe mesmo bem.

Les Deux Robes Rouges ( sec. XIX)
Mas se a lagosta não cair na nossa mesa, há outras opções incluindo as ostras e diverso peixe. Em Portugal tende a ser o bacalhau, sempre presente nas ocasiões especiais.

William Michael Harnet

Johann Wilhelm Preyer

Édouard Manet
As Passas e as Romãs são fundamentais para se cumprirem os nossos desejos ( 12 apenas, há quotas, não abusem) e para termos muita sorte, algo que faz muita falta mesmo para aqueles que se fartam de trabalhar para a ter.
A Romã simboliza esperança, prosperidade, amor e até fecundidade pelo que pode vir também para a mesa de fim de ano para que os progressos de 2023 não sejam todos comidos pela inflação. E aqueles bolinhos e os frutos secos? Esses não se contestam, estão ali porque sim e não precisam de recomendação nenhuma. Sirvam-se se faz favor.


O Champanhe. Bem, aqui impõe-se uma recomendação que serve para o ano todo: Brindar sempre com álcool. Elementar mas vale a pena sublinhar. O champanhe é a bebida da noite, o saltar da rolha sincronizado com a 12ª badalada promete muito e é ainda excelente para ajudar a engolir as malditas passas dos desejos. Para mim a melhor parte da passagem de ano é mesmo o champanhe. É uma bebida que só faz bem, pelo menos a mim . No champanhe tudo é bom, desde a forma da rolha e da garrafa até à leveza das finíssimas bolhas bailarinas.E agora sim, brindemos ao Ano Novo, Feliz 2023, brindemos! Já estou mais alegre, não estou? Deve ser do champanhe.
